Esse texto não pretende “derrubar” nenhuma “ideia errada”, apenas acrescentar e gerar uma discussão saudável que nos faça refletir sobre a diversidade e a pluralidade do baralho cigano para que possamos conciliar os conflitos que surgem nos seus estudos e que geram muita confusão. A ideia é acrescentar e compreender.
Para um melhor entendimento é necessário que saibamos que
existem suas formas distintas de estudo do baralho cigano: as escolas brasileira e europeia. A europeia baseia-se nos significados cartomânticos tradicionais que tem como base o imaginário popular local e o simbolismo cristão. Os símbolos são representações de situações cotidianas e mundanas.
A escola brasileira nasce do sincretismo desses mesmos símbolos com elementos religiosos e mitológicos das culturas afro-brasileiras. Isso gerou uma releitura das imagens e uma ressignificação das mesmas caracterizando um novo corpo de ideias que, muitas vezes, opõem-se à sua proposta original. A escola brasileira é exclusiva do nosso país e só é utilizada e observada aqui. O resto do mundo adota a escola europeia. Em contra partida somos o país que mais popularizou e usa o baralho cigano.
A carta do jardim me chamou atenção e passei a noite toda pensando nela. Quando estudamos veremos que entre outras coisas, a escola brasileira apresenta-a como sendo a “semeadura e a colheita do que se plantou”. Também ”a cura e magia das plantas”.
Esse significado nasce a partir da associação com o orixá Ossaim e por esse caminho faz todo o sentido uma vez que ele é o orixá das folhas, da ciência, das ervas e da cura. Agora, esses atributos entram em choque com o que um jardim realmente significa, principalmente, o jardim que o baralho cigano apresenta.
Uma grande confusão se faz quando um significado que não é natural a um símbolo é atribuído a ele. Como exemplo, temos os paus, pedras e dificuldades, significado da carta dois, o trevo, na escola brasileira. Como um símbolo universal de sorte pode agregar um sentido diametralmente oposto ao seu? Não dá. Tanto que os baralhos como o da Katja Bastos, o primeiro baralho nacional a partir do qual nasce a escola brasileira, sua simbologia é readequada, eliminando-se o trevo e apresentando paus, pedras e espinhos.
Apenas para sugerir uma reflexão, o que se atribui aos jardins não faz parte dele. Quando se fala em “colheita” é de uma plantação a que estamos nos referindo. Os jardins não tem função de alimentar, prover ou sequer de se colher algo para propósitos que não sejam no mínimo estéticos, o que nada tem a ver com cura.
Os jardins representados no baralho cigano original são os jardins públicos, que são mais como praças e os parques. O seu nome em alemão não é “der Garten” – jardim, mas “der Park”, o parque. O que se representa aqui é um elemento de convívio essencial da realidade europeia do século XIX. Não podemos pensar em símbolos antigos como são vistos hoje. Parques e jardins públicos eram lugares para lazer, descontração, encontros, namoros e socialização. Um lugar onde havia um fluxo de pessoas que se olhavam, se mostravam e ao mesmo tempo admiravam aquele local onde a natureza era reconstruída para trazer beleza e deslumbre através de suas flores multicoloridas e construções vivas como cercas, esculturas em arbustos e labirintos. As pessoas não iam para se curar, mas para relaxar, alegrarem-se, socializar e relacionarem-se. A fonte em seu centro representa a vida onde tudo cresce a sua volta. A ideia é ser uma fuga da dura realidade e pretendia ser um pequeno paraíso.
Ao fim, a carta traz em si um sentido relacional, estético e de entretenimento em essência.
Mas, então e a semeadura, a cura e as folhas e ervas? Pois é. Se pensarmos nesse sentido, a partir dessas qualidades do Orixá Ossaim iremos para a carta cinco do nosso baralho, a árvore. Porém, ela já está associada ao Orixá oxossi, senhor das matas.
Um símbolo tem a capacidade de agregar muitos significados. Ele é estratificado e agregador, contendo em si, até mesmo, elementos que são divergentes na realidade. Um círculo tanto nos remete a uma bala de canhão como a uma aliança de casamento.
Sim a árvore traz a fartura e é o elemento de Oxossi! Mas, também representa a saúde e as folhas e as ervas medicinais de Ossaim. Ambos cabem aqui. Oxossi não representa a mata em si, mas o caçador. Ossaim é senhor das ervas e reina na mata de onde retira as ervas e folhas para suas curas. Segundo uma das lendas dos orixás, Oxóssi só passa a habitar nas matas depois de seu rapto por Ossaim que o encanta e aprisiona na floresta sendo mais tarde libertado e quando retorna à casa é rejeitado por Yemanjá por tê-la desobedecido. Então, retorna à floresta onde passa a viver com Ossaim.
O que pretendo com essa reflexão não é alterar o significado das cartas, pois como disse, a escola brasileira teve de fazer readequações no simbolismo do baralho para que ele pudesse e receber e comportar os seus elementos religiosos. Essas observações são necessárias para que possamos entender como nasce a escola brasileira e para que possamos explicar , com propriedade, como essas mudanças e adaptações aconteceram. Não podemos forçar sentidos a símbolos aos quais eles não pertencem. Jardins não feitos para colheitas, nem representam frutos que dão com as sementes que plantamos, pois eles são planejados e tem função estética. A árvore é um símbolo universal de cura e saúde, das ervas e também da fartura e da abundância. No próprio baralho, na escola europeia é ela a significadora da saúde.
O sistema de associação proposto pela escola brasileira é perfeito! Agrega bem os orixás e quando aplicado o método desenvolvido por Katja bastos, acrescenta e enriquece por demais uma leitura. Então, quando associamos Ossaim aos jardins não por ele os reger, mas porque ele precisa estar em algum lugar e , por convenção, é a carta 20 que o comporta na estrutura brasileira.
Nada mudou ou mudará, apenas precisamos entender o que estamos falando para não incorrer em erros desnecessários que gerarão conflito e desinformação.
Infelizmente, principalmente no meio esotérico, falta questionamento. Aceita-se tudo que é apresentado sem se perguntar de onde veio aquela ideia ou se ela é coerente e entra-se no “efeito papagaio”. Repete-se tudo o que se houve sem se saber o que está sendo dito.
Nesse momento a reflexão e o questionamento são essenciais para o desenvolvimento do conhecimento e dos estudos sobre o baralho cigano. As diferenças entre as escolas brasileira e europeia e o seu estudo constituem um norte em e meio ao caos que é mergulhar nos estudos do baralho. E com isso também definimos a nossa contribuição inestimável para a história do petit Lenormand no mundo.
fontes:
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Pandri – Companhia das Letras
http:// carmenarabelabp.wordpress.c om/category/ o-significado-do-baralho-ci gano-para-quem-quer-aprend er-a-jogar/page/2/
http:// goldenmousedeer.wordpress.c om/2011/07/15/79/
A escola brasileira nasce do sincretismo desses mesmos símbolos com elementos religiosos e mitológicos das culturas afro-brasileiras. Isso gerou uma releitura das imagens e uma ressignificação das mesmas caracterizando um novo corpo de ideias que, muitas vezes, opõem-se à sua proposta original. A escola brasileira é exclusiva do nosso país e só é utilizada e observada aqui. O resto do mundo adota a escola europeia. Em contra partida somos o país que mais popularizou e usa o baralho cigano.
A carta do jardim me chamou atenção e passei a noite toda pensando nela. Quando estudamos veremos que entre outras coisas, a escola brasileira apresenta-a como sendo a “semeadura e a colheita do que se plantou”. Também ”a cura e magia das plantas”.
Esse significado nasce a partir da associação com o orixá Ossaim e por esse caminho faz todo o sentido uma vez que ele é o orixá das folhas, da ciência, das ervas e da cura. Agora, esses atributos entram em choque com o que um jardim realmente significa, principalmente, o jardim que o baralho cigano apresenta.
Uma grande confusão se faz quando um significado que não é natural a um símbolo é atribuído a ele. Como exemplo, temos os paus, pedras e dificuldades, significado da carta dois, o trevo, na escola brasileira. Como um símbolo universal de sorte pode agregar um sentido diametralmente oposto ao seu? Não dá. Tanto que os baralhos como o da Katja Bastos, o primeiro baralho nacional a partir do qual nasce a escola brasileira, sua simbologia é readequada, eliminando-se o trevo e apresentando paus, pedras e espinhos.
Apenas para sugerir uma reflexão, o que se atribui aos jardins não faz parte dele. Quando se fala em “colheita” é de uma plantação a que estamos nos referindo. Os jardins não tem função de alimentar, prover ou sequer de se colher algo para propósitos que não sejam no mínimo estéticos, o que nada tem a ver com cura.
Os jardins representados no baralho cigano original são os jardins públicos, que são mais como praças e os parques. O seu nome em alemão não é “der Garten” – jardim, mas “der Park”, o parque. O que se representa aqui é um elemento de convívio essencial da realidade europeia do século XIX. Não podemos pensar em símbolos antigos como são vistos hoje. Parques e jardins públicos eram lugares para lazer, descontração, encontros, namoros e socialização. Um lugar onde havia um fluxo de pessoas que se olhavam, se mostravam e ao mesmo tempo admiravam aquele local onde a natureza era reconstruída para trazer beleza e deslumbre através de suas flores multicoloridas e construções vivas como cercas, esculturas em arbustos e labirintos. As pessoas não iam para se curar, mas para relaxar, alegrarem-se, socializar e relacionarem-se. A fonte em seu centro representa a vida onde tudo cresce a sua volta. A ideia é ser uma fuga da dura realidade e pretendia ser um pequeno paraíso.
Ao fim, a carta traz em si um sentido relacional, estético e de entretenimento em essência.
Mas, então e a semeadura, a cura e as folhas e ervas? Pois é. Se pensarmos nesse sentido, a partir dessas qualidades do Orixá Ossaim iremos para a carta cinco do nosso baralho, a árvore. Porém, ela já está associada ao Orixá oxossi, senhor das matas.
Um símbolo tem a capacidade de agregar muitos significados. Ele é estratificado e agregador, contendo em si, até mesmo, elementos que são divergentes na realidade. Um círculo tanto nos remete a uma bala de canhão como a uma aliança de casamento.
Sim a árvore traz a fartura e é o elemento de Oxossi! Mas, também representa a saúde e as folhas e as ervas medicinais de Ossaim. Ambos cabem aqui. Oxossi não representa a mata em si, mas o caçador. Ossaim é senhor das ervas e reina na mata de onde retira as ervas e folhas para suas curas. Segundo uma das lendas dos orixás, Oxóssi só passa a habitar nas matas depois de seu rapto por Ossaim que o encanta e aprisiona na floresta sendo mais tarde libertado e quando retorna à casa é rejeitado por Yemanjá por tê-la desobedecido. Então, retorna à floresta onde passa a viver com Ossaim.
O que pretendo com essa reflexão não é alterar o significado das cartas, pois como disse, a escola brasileira teve de fazer readequações no simbolismo do baralho para que ele pudesse e receber e comportar os seus elementos religiosos. Essas observações são necessárias para que possamos entender como nasce a escola brasileira e para que possamos explicar , com propriedade, como essas mudanças e adaptações aconteceram. Não podemos forçar sentidos a símbolos aos quais eles não pertencem. Jardins não feitos para colheitas, nem representam frutos que dão com as sementes que plantamos, pois eles são planejados e tem função estética. A árvore é um símbolo universal de cura e saúde, das ervas e também da fartura e da abundância. No próprio baralho, na escola europeia é ela a significadora da saúde.
O sistema de associação proposto pela escola brasileira é perfeito! Agrega bem os orixás e quando aplicado o método desenvolvido por Katja bastos, acrescenta e enriquece por demais uma leitura. Então, quando associamos Ossaim aos jardins não por ele os reger, mas porque ele precisa estar em algum lugar e , por convenção, é a carta 20 que o comporta na estrutura brasileira.
Nada mudou ou mudará, apenas precisamos entender o que estamos falando para não incorrer em erros desnecessários que gerarão conflito e desinformação.
Infelizmente, principalmente no meio esotérico, falta questionamento. Aceita-se tudo que é apresentado sem se perguntar de onde veio aquela ideia ou se ela é coerente e entra-se no “efeito papagaio”. Repete-se tudo o que se houve sem se saber o que está sendo dito.
Nesse momento a reflexão e o questionamento são essenciais para o desenvolvimento do conhecimento e dos estudos sobre o baralho cigano. As diferenças entre as escolas brasileira e europeia e o seu estudo constituem um norte em e meio ao caos que é mergulhar nos estudos do baralho. E com isso também definimos a nossa contribuição inestimável para a história do petit Lenormand no mundo.
fontes:
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Pandri – Companhia das Letras
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