Wednesday, February 04, 2015


O TREVO

Na ESCOLA BRASILEIRA, paus e pedras no caminho. Obstáculos transponíveis e aborrecimentos passageiros. 

Sendo o trevo um símbolo UNIVERSAL de SORTE, isso nunca entrou na minha cabeça. 

Talvez esse significado se deva por alguns livretos apresentarem a carta como “paus” e a impressão de má qualidade nos baralhos mais baratos descaracterizarem a imagem levando os pioneiros do petit lenormand no Brasil a interpretá-la como algo ruim.

Na ESCOLA EUROPEIA, a sorte para uns e a pequena sorte para outros; as oportunidades e a alegria.

Sou do “bonde” do CONCEITO, não me convenço com essa de que Lenormand se restringe à palavras-chave e outras baboseiras. Palavras-chave funcionam revelando aspectos do conceito e nos levando até ele, constituindo uma via de mão dupla.

São MEIO e não FIM.

O Petit Lenormand, em sua versão original como Jogo da Esperança era um “jogo moralizante”, portanto, inspirado no simbolismo cristão. Seguindo a direção que esse contexto nos dá, o melhor momento histórico para começar a compreendê-lo é em sua cristianização por São Patrício, na Irlanda, por volta do século V.

São Patrício mostrou a trindade divina numa planta tão comum e simples, o três em um; Pai, Filho e Espírito Santo sendo um só, como as folhas do trevo ligadas pela haste que as sustenta. O trevo de quatro folhas indicaria os quatro evangelhos ou a humanidade acompanhada da trindade, tendo seu aspecto de sorte ampliado pela sua raridade. Então, de três ou quatro folhas, simbolicamente, para nós, o trevo será sempre O TREVO.

A carta dois tem como princípio a ESPIRITUALIDADE NAS PEQUENAS COISAS. A natureza encerra simbolismo profundo em formas simples.

O contato com a planta simboliza o encontro com as formas mais singelas do divino que transcende a própria forma, sendo pleno tanto no infinito do universo quanto nas folhas de um simples trevo.

O seu tamanho o faz imperceptível, mesmo crescendo em qualquer lugar, abundantemente.

Os trevos estão espalhados à nossa volta nos canteiros, vasos, no mato e até nas rachaduras das calçadas.

Ali, debaixo de nossos narizes! Quem vê, leva!

A sorte vista como uma força do destino acionada pelo nosso livre arbítrio.

As oportunidades nos são apresentadas pela vida, cabendo a nós aceita-las ou rejeitá-las num primeiro momento e saber aproveitá-las, em outro. É dessa forma, consciente e proativa que a sorte acontece e pode se multiplicar.

Com o trevo, procure o óbvio. Nem sempre grandes soluções estão em coisas grandiosas.

A carta indica situações que podem, em princípio, parecem insignificantes, mas que devidamente exploradas, podem se revelar poderosamente benéficas e causar um impacto positivo em nossas vidas em curto ou, até mesmo, longo prazo.

Quando o analfabeto do campo, que mal sabe conjugar um verbo e tem um radinho de pilha como alta tecnologia te faz beber o sumo verde de folhas que colheu no mato e macerou cura suas dores e coloca seus órgãos deficientes para funcionar, estamos diante de um momento trevo.

De certa forma, ele nos permite quebrar preconceitos por revelar a grandiosidade das pequenas coisas e a insignificância das aparências.

Tem, também, uma função dinamizadora, pois nos estimula a interagir com a vida, ter atenção aos detalhes e aproveitar as oportunidades. Sem ação, o trevo não tem efeitos significativos e tudo passa rápido.

Vivi uma situação emblemática com uma grande amiga e irmã. Uma angolana espiritualizadíssima, uma grande vidente, que mora em Portugal chamada Maria Ema. Ela vivia cheia de trevos de 4 folhas, de cinco e até de seis!

Um dia, caminhando pelo Parque da Cidade, na cidade do Porto, eu disse-lhe que gostaria muito de achar, pelo menos, um trevo de quatro folhas, pois nunca tivera essa SORTE.

Na mesma hora, ela pediu que eu olhasse para o chão que, naquele momento, eu acharia um. Eu ri, pensando que era uma brincadeira, mas resolvi fazer o que ela disse.

Abaixei a cabeça e vi que havia um pequeno aglomerado de pequeninos trevos entre os meus pés, que eu não havia reparado até o momento. Abaixei-me e passei a mão por eles uma única vez.

Para minha surpresa, saltou um belo trevo de quatro folhas que colhi com grande alegria! A partir desse dia, achei trevos de 4 folhas quase TODOS OS DIAS durante um ano, até o dia da minha viagem de retorno ao Brasil.

Bastou-me fé, confiança na vida, aproveitar a oportunidade e ter iniciativa.

Não desperdicem suas oportunidades e nunca deixei de acreditar que o melhor ainda está por vir!


Tatô e Baralho Cigano


A relação entre os oráculos se dá tanto nas diferenças quanto nas semelhanças, apesar da tendência geral evidenciar superlativamente suas diferenças, criando uma ideia que não corresponde à realidade.

Podemos estabelecer três tipos de diferenças:
Estrutural, iconográfica e simbólica.

A ESTRUTURAL se evidencia no número de cartas e suas estruturas internas.
No tarô temos 78 cartas ou arcanos que se dividem em arcanos maiores e menores.

Ambos os grupos têm função complementar e estruturas complexas. Existe uma linearidade no ordenamento dos dois conjuntos que se dá pelos números ou hierarquia, no caso dos arcanos menores numerados e da corte. Além da ordem sequencial, encontramos outros fatores de que interligam os elementos dos conjuntos de ou formas diferentes através do número e relações simbólicas.

No petit lenormand temos 36 cartas e dois conjuntos:imagens e naipes, como no tarô, porém esses estão contidos um no outro, mesmo sem manter relação direta. Cartas e naipes são independentes. Não se pode ordenar sequencialmente todos os elementos, simultâneamente. Se ordenarmos pelos naipes, desordenamos os números, e vice-versa, optando-se, na maioria das vezes, pelo número.

Naipes e Imagens foram concebidos para funções distintas sendo complementares, somente, através da utilização de algumas técnicas de leitura.

Vemos as diferenças ICONOGRÁFICAS na construção das imagens. Enquanto o tarô obedece a padrões mais rígidos, onde cenários, personagens e suas posições precisam seguir certas regras como, por exemplo, O Mago que deve segurar uma varinha e ter uma mão erguida e outra abaixada, o lenormand já não apresenta essa necessidade. A cegonha, independente de estar se alimentando no lago, cuidando de seu ninho ou voando, manterá seus atributos inalterados. Suas imagens podem ser elaboradas de forma mais livre não estando presas à cadeias simbólicas, sendo mais simples.

As diferenças SIMBÓLICAS se apresentam nos símbolos (sol, lua, torre, estrelas e cavaleiro) utilizados pelos dois baralhos, porém com atributos diferentes ou parcialmente semelhantes.

Como exemplo, temos a lua que no tarô fala de ilusões, medos e inimigos ocultos; enquanto no petit lenormand representa honras, méritos e reconhecimento profissional. Já o Sol, em ambos, divide os atributos de sucesso e alegria, porém o Sol do tarô apresenta um aspecto relacional, simbolizando amor e namoro, que não encontramos no lenormand.

Das semelhanças, a mais importante a ser destacada é: ambos são CARTOMANCIA.

Cartomancia é a arte de prever o futuro através das cartas, então isso engloba todos os tipos de cartas. O tarô é uma variação mais sofisticada de cartomancia, mas não deixa de o ser.
No seu surgimento, ele era tão mundano como qualquer baralho. Seus símbolos eram facilmente reconhecidos e descreviam situações cotidianas como faz o petit lenormand, hj em dia.
Afirmações de que o tarô é mais para perguntas de cunho filosófico e espiritual e o petit lenormand para questões mundanas não se confirmam no dia-a-dia do consultório onde ambos se mostram perfeitamente eficazes em responder perguntas de qualquer natureza.

Da mesma forma, dizer que o tarô dá respostas subjetivas e o petit lenormand objetivas é outro erro grosseiro. A qualidade da resposta está no produto dos estudos e experiência pessoal do leitor que definirão o grau de profundidade da sua interpretação e a linguagem que usará para transmitir essa informação. Portanto, podemos ser tão subjetivos com o lenormand quanto objetivos com o tarô. Esses mitos se construíram durante o processo histórico de ambos os baralhos.

Os dois foram, inicialmente, concebidos para serem jogos de diversão. No caso do tarô, nos séculos XVIII e XIX, ocultistas reconheceram nele características místicas e esotéricas inserindo-o em seus rituais, atribuindo-lhe, assim, novas formas de utilização e funções para que se adequasse às suas necessidades. Posteriormente, houve uma releitura de seus símbolos pelo viés da psicologia junguinana que fez nascer uma nova abordagem que ampliou ainda mais o seu universo. Essas duas interferências marcaram profundamente a história do tarô e como ele passou a ser visto.

Com o lenormand, o processo foi inverso. A sua curta história e a falta de obras e estudos mais profundos, limitou as informações a seu respeito aos livretos que acompanhavam o baralho, e eram compostos por meia dúzia de palavras-chave e um único método de cartomancia rudimentar. Dessa forma, criou-se a falsa ideia que ele se restringia à palavras-chave e, por isso dava “respostas mais diretas” recebendo a alcunha de “Baralho Fofoqueiro”, ao mesmo tempo que se diz que o lenormand só dá respostas por combinações, sendo desaconselhável a leitura com uma só, carta, ao contrário do tarô onde se pode obter respostas com um só arcano. Mais uma vez, a prática descontrói essa falácia, mostrando que uma carta do lenormand, sozinha, é capaz de nos responder o que precisamos saber.

Tarô e lenormand se equilibram na balança. A riqueza simbólica e a complexidade das cartas do tarô é compensada pela atualidade da simplicidade das cartas do petit lenormand que permitem a identificação imediata de seus símbolos, mesmo por quem não as conhece, facilitando o aprofundamento do seu conhecimento através de experiências vivenciais.

Com todas as suas diferenças e semelhanças, a função de ambos é a mesma: proporcionar-nos uma visão mais ampla da vida e maior compreensão de nós mesmo, orientando-nos em nossas escolhas.