Wednesday, January 10, 2007

THE END







Havia pensado em escrever sobre a carta do Trevo, (a carta da sorte, alegria e oportunidade) como primeiro post do ano, mas é inegável a forte influência de outra lâmina nesse momento da minha vida: O Caixão.

2006 foi um ano de grandes transformações, de ganhos que só foram possíveis com grandes perdas. Não sei se vocês largariam toda uma vida estruturada e materialmente segura pela sensação de satisfação, liberdade, bem-estar e alegria. Eu sim!

O Caixão é perda, morte, fim. Fala-se muito em “mudança radical”, mas acho que as pessoas não associam muito a palavra mudança à perda mesmo essas duas sendo gêmeas siamesas, inseparáveis. Temer a carta por trazer a imagem da morte e do fim é um tanto imaturo e precipitado, pois é com a morte que a vida se faz.

O meu amigo Caixão abriu e fechou o ano de 2006 com três acontecimentos marcantes e decisivos: A morte de um primo querido, a decisão de largar tudo em Portugal e voltar para o Brasil e o fim de uma relação de seis anos.

Meu primo se foi. Não volta mais. Minha tia está viúva e minha prima órfã de pai, porém há vida nova: ela estava grávida quando ele morreu e seu filhinho lindo veio trazer alegria à família num momento de luto e dor.

Cezar foi e não volta mais. Pedro veio para ficar até chegar sua vez de partir. Pai e marido deram lugar a neto e filho. O passado deixa saudades pois é irrecuperável. O futuro traz alegria e esperança, e assim a balança se equilibra.

Portugal foi uma terra de aprendizado e amadurecimento, uma grande escola. Lição aprendida, é hora de partir. Fruta madura tem de ser colhida, se não estraga.

Em meio à muita relutância e indecisão, do medo de perder tudo o que foi construído, decidi voltar para casa para junto do sol, do calor e do mar. Não é fácil deixar anos de trabalho e uma carreira sólida para trás, mas se pensarmos que o que foi construído não é uma “carteira de clientes”, status ou qualquer bem material, fica tão fácil como escrever o próprio nome. Tudo tem seu tempo e, se não respeitamos essa lei universal, entramos em decadência.

Amor Romântico morre para nascer a amizade. Foi assim que tudo acabou após seis anos, quatro meses e seis dias depois do último capítulo de Cobras e Lagartos no sofá da sala pouco antes do ano acabar, no dia 29. Insistir num amor morto era matar a amizade, assassinar o carinho. Resistir à mudança e evitar a perda é perder vida!

Se compreendêssemos melhor o Caixão, as coisas seriam muito mais fáceis.
Haveria mais felicidade.

Vivendo o Caixão, pude perceber a necessidade do desapego. Alguns autores referem-se a essa carta como indicativo de depressão, tristeza e saudade. Isso é muito evidente quando ainda há apego e a carta indica um grande “buraco” por onde escoa toda a vitalidade. As energias são direcionadas para algo que não existe mais, não faz parte do momento, já foi. Quem assistiu "Entrevista com o Vampiro" deve se lembrar de Louis no começo no filme, desistindo da vida pela perda da mulher e do filho.

Se o aceito, ele torna-se um alívio e abre as portas para direções nunca antes trilhadas. Como diz Nei Naiff, “A dor faz parte da vida, o sofrimento é opcional”.
O grande obstáculo do caixão é esse apego pois, se insistimos nele, a carta se torna grande problema.

Terminar a minha relação custou e está custando um bocado, mas muito menos do que outras de um mês ou dois. Nessa houve mais sentimentos que em outras, o que fez a diferença foi o desapego, a consciência de que se chegou num ponto de saturação e que é hora de deixar ir. Liberdade e alívio. Quem me dera saber disso antes...

Deixar Portugal gera ansiedade e um certo frio na barriga, mas ficar é abrir mão da minha felicidade, que não está aqui. Então, só mesmo deixando para trás e seguindo em frente.

E assim será!

O fim, a morte e a perda geram abertura, vida e oportunidades!
O que antes era, já não mais será.

E no Caixão, onde tudo se esgota, vale pena lembrar:

“Que se esvazie o que está cheio para se encher o que está vazio”