Friday, November 23, 2007

A Lenda da Pedra da Onça

Era uma vez uma índia e uma onça. Bem, era uma onça por conta dos que sempre aumentam um ponto do seu conto. Maracajá! Por favor, nuca houve onça na Ilha do Governador! Gato selvagem pintado como uma onça, mas que era gato. Depois é que virou estátua na lenda da Pedra da Onça.
Conta-se que, aqui na Ilha, há muitos e muitos anos, havia uma índia cujo nome se perdeu no tempo (ou mesmo nunca existiu, já que é uma lenda, mas que vive até hoje no imaginário popular insluano). Essa índia e seu maracajá eram amigos inseparáveis, ligados pelo forte amor que os unia. Índia e Gato, dois como um. Um para o outro, sempre. Sem cobranças, sem reservas, tudo pelo simples prazer de estarem juntos. Amor incondicional. Amizade.




Todos os dias ela, a índia, ia com seu amigo até uma pedra na atual praia no Bananal, que antigamete era chamada de Pedra dos Amores. Lá, mergulhava nas águas, um dia límpidas, e também de lá saía para pescar. E lá de cima da pedra, o maracajá comtemplava com alegria a índia no seu lazer ou trabalho. Um dia, mergulhando ou saindo de barco, movendo-se em direção ao mar, a índia se foi para nunca mais voltar. Dia após dia, noite após noite, o gato aguardou a índia com os olhos fixos na água, por dias seguidos, até morrer de fome e sede.



Na década de 20, a Pedra dos amores ganhou uma estátua do Maracajá projetada e construída pelo artista plástico Guttman Bicho e substituída, devido à deterioração causada pela marisia e outros fatores, em 1965. Hoje a Pedra dos Amores é a Pedra da Onça.
Dessa forma, podemos ver o gato do mato a contemplar o mar esperando o retorno de sua amiga, até hoje um símbolo de amizade e esperança. Amizade e Esperança, lenormando a lígua num passe de mágica, torna-se respectivamente 18 e 30, Cão e Âncora.


A Âncora, símbolo da estabilidade, simboliza a confiança (em Deus), nossa segurança no mar agitado da vida. Como tema náutico, sugere a esperança dos marinheiros num porto seguro.
Nos baralhos de cartomancia do século XIX, a carta era representada por uma mulher que abraçava uma âncora e vislumbrava o mar, indicando o porto seguro dos marinheiros e também a esperança de seu retorno, como nosso Maracajá na pedra.

De ancorado a encalhado. A lenda mostra o lado negativo da carta, que nos encalha e nos fixa a ponto de não conseguirmos nos mexer. A esperança vazia junto à fidelidade criando estagnação, prisão e definhamento. A vida é dinâmica, se paramos, secamos, morremos. Lenormando uns textos atrás podemos ver como nosso amigo caixão é bem vindo em algumas situações. O gato que representa o cão. Nunca os dois estiveram em tamanha harmonia. A amor puro na forma da amizade. O cão vigilante e fiel, psicopompo, que acompanha o homem na sua vida protegendo-o até após a morte ao seu lado em sua jornada no além. Também, em alguns baralhos do século XIX, a fidelidade do cão era representada com um soldado morto e o animal companheiro ao lado de seu corpo inerte, sem vida, lambendo-lhe o rosto na esperança de que acordasse. Guardando-o e protegendo-o.Fidelidade, não importa a circunstância, é estar firme com seu compromisso: carta 18, o Cão. E, nesse sentido, podemos ver como essas duas cartas se assemelham em alguns atributos.








Hoje vou dar um passeio na praia e aproveitar pra ir ver o gatinho na pedra e dar um alô para ele. Pena que ele nem vai me dar muita atenção, pois mais importante que qualquer coisa é a sua vigília, alimentada pela fé de que um dia sua espera terá um fim.


Tuesday, October 02, 2007

A Âncora




A Fé é o fundamento da Esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.

Monday, September 24, 2007

Passarim que voar!





Cá estou eu de volta, depois de tanto tempo: com o regresso ao Brasil e ainda muita coisa para resolver, tendo encerrado dois meses de intenso trabalho e tudo acontecendo ao mesmo tempo!




Arrumei malas, procurei quem comprasse os móveis da casa, tentei falar com o senhorio para entregar o apartamento mas ele nunca atendia o telefone… Consultas, cursos, textos para escrever, amigos querendo se despedir, muitos lugares ainda por visitar, convites de viagens irrecusáveis (todas pagas!), mas e o tempo? 24 horas é muito pouco!





Sentimentos de alegria, saudade, expectativa e ansiedade. Tudo ao mesmo tempo!


Nessa onda frenética e stressante, lembrei de sentar e escreve sobre a carta dos pássaros. Pois é, complexa de se compreender, se vista com superficialidade e sem se observar as origens do baralho. Muita gente que não conhece a escola européia se pergunta: “Mas o que tem as ver os pássaros com essa confusão toda? Eles não significam isso!”



É, na escola brasileira, os pássaros representam alegrias e amores. Onde as avezinhas são observadas em seu aspecto primaveril e matinal, cantando uma melodia doce e bela que saúda o sol que se ergue na primavera ou nos dias quentes de verão. Acordando-nos de forma suave e carinhosa e fazendo despertar os sentimentos de alegria e festa dentro de nossos corações.



Porém, se voltarmos no tempo e formos para o século XIX, mais precisamente na sua segunda metade onde o Petit Lenormand encontra sua aurora, veremos que história é bem diferente. A lâmina 12 tem a sua iconografia representada de duas formas distintas: com Pássaros ou Corujas. Seus atributos não tinham (e continuam não tendo) nada a ver com a versão brasileira.



Um símbolo ganha significados diferentes dependendo da cultura onde é inserido e nesse caso, a coruja que simbolizava a sabedoria na Grécia, dedicada a deusa Athená, é vista como uma criatura nefasta e maléfica na Europa medieval e vitoriana. Associada à escuridão da noite e às bruxas, faz companhia ao morcego, ao rato e ao lobo - criaturas agourentas e diabólicas.


Quem nunca viu, nos filmes e desenhos animados, os grandes olhos das corujas acesos como lâmpadas na escuridão da noite e seu piado abafado gerando medo do escuro e do desconhecido? Nesse caso, ela torna-se o símbolo do medo e da preocupação, uma carta que confunde e bloqueia. Já os pássaros vêm a ser uma evolução de outra carta presente em baralhos anteriores ao Petit Lenormand dos quais ele nasceu: “As borboletas” que, entre outras coisas, significa a frivolidade e a inconstância.



A carta da coruja parece não ter feito grande sucesso sendo substituída na maior parte dos baralhos pelos pássaros, apesar de ainda ser encontrada em alguns ainda hoje editados.
Apesar das imagens diferentes a carta mantém o mesmo significado: stress, confusão, movimento sem direção, inconstância, desgosto, preocupação e viagem. Os pássaros herdam algumas das características da coruja que se somam as deles.



Para melhor ilustrá-la, vale lembrar daqueles tardes de verão quando todos os pássaros da redondeza começam a se amontoar numa árvore fazendo grande algazarra, lutando pelo melhor espaço no galho e piando incessante e desordenadamente ao mesmo tempo. Também o pardal, que quando pousa para comer, move-se rapidamente aos saltinhos pronto para voar a qualquer momento, sempre com aquele jeitão tenso e estressado. Já no céu, voa com grande velocidade deslocando-se de um lado para o outro sempre a piar.




A questão da “viagem” tem a ver com as técnicas rudimentares e pouco elaboradas dos manuais que acompanhavam os baralhos, cujas cartas significadoras do consulente eram tomadas como referencial, fazendo com que os atributos das outras se alterassem dependo de sua distância delas. Nesse caso, os pássaros quando longe do consulente, significavam viagem.


Sintetizando tudo que foi dito até agora, temos uma carta muito dinâmica porém inconstante, que simboliza os momentos em que há várias coisas simultaneamente em nossa cabeça e tentamos fazê-las todas ao mesmo tempo, resultando em fadiga física e mental. Também pode simbolizar sentimentos de ansiedade e grande vontade, porém passageira. Fogo de palha. A mudança constante de direção que por vezes nos faz andar em círculos. O desafio da lâmina é que tentemos canalizar toda essa energia numa única direção, de forma a criar mais ordem e constância para que possamos ir mais longe, conquistando mais versatilidade e rapidez de pensamento. Um grande desafio devido ao sentido de barulho e confusão por ela representados.



Posso dizer que é realmente difícil arrumar a bagunça dessa passarada! Mas a gente não pode é parar. Rodamos, rodamos, rodamos e uma hora achamos o caminho!



Depois dessa confusão toda, a merecida viagem acontece! E assim pude ouvir os pássaros da escola brasileira quando desembarquei no Galeão, vendo o Cristo de braços abertos a me receber de volta depois de tanto tempo!





Beijos a todos!
Sem stress, tá?

Friday, May 18, 2007

Lenormando com a Vanessa... Ai Ai Ai

Se você quiser eu vou te dar um amor
Desses de cinema
Não vai te faltar carinho,
Plano ou assunto ao longo do dia



Se você quiser eu largo tudo
E vou pro mundo com você, meu bem
Nessa nossa estrada
Só terá belas praias e cachoeiras


Aonde o vento é brisa
Com a nossa felicidade
Vamos brindar a vida meu bem



Aonde o vento é brisa
E o céu claro de estrelas
O que a gente precisa
É tomar um banho de chuva,um banho de chuva.



Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai

Thursday, April 26, 2007

50 CHIBATADAS

Hoje o assunto é violência. Seu número no Lenormand é 11 e sua cara é o Chicote. Porrada, chicotada, saraivada, ofensa, briga, litígio, dor, castigo. A lista dos seus atributos é longa e bem conhecida por todos, pois hoje em dia, assim como nos anos, séculos e milénios que se passaram e abrigaram a nossa história, ele sempre esteve presente fora e dentro de nós.
A palavra chicote vem do nautle, significando uma vespa, cuja aguilhoada queima na pele. Símbolo da agressão e da violência, vem a ser o uso abusivo e excessivo da força, causando dano e destruição. É uma energia que separa e desune, destrói e auto-destrói. Muita gente é violenta e nem se dá conta, pois certos comportamentos são tão “normais” que nem são sentidos os danos. E nessas horas ser “anormal” dá um prazer enorme.
É engraçado como se pode ser violento e destrutivo por uma “causa nobre”. Já diz o ditado popular: "De boas intenções o inferno está cheio", e cada vez enche mais!No último mês de Fevereiro, ao participar do Encontro da Nova Consciência em Campina Grande, pude testemunhar o quão irracional, animal, orgulhoso, vaidoso e medíocre pode ser o ser humano. Graças a Deus que nem todos são assim, e por falar Nele, até o Cara entrou na dança! Foi em seu nome que o chicote rodou no alto e açoitou, ou pelo menos tentou, as costas de muita gente.
Um grupo de Jovens Evangélicos, fanáticos e obcecados pelo seu suposto amor a Jesus organizaram-se para tentar, de todas as formas, sabotar e prejudicar o evento.Um encontro que prega a paz, tolerância, união e fraternidade, em que fere a crença ou religião de alguém? Nessas horas eu fico a pensar: o que fala mais alto, o amor a Jesus ou o ódio ao Diabo?
As situações foram diversas. Um grupo de teatro muito bem organizado, vestidos de palhaço cantando e dançando, parava na porta do teatro para bloquear o acesso das pessoas às palestras. Um grupo de senhoras que se diziam fazer parte da Associação Brasileira de Mães foi instruído a estar na sala do Encontro GLBT meia hora antes, para que este fosse impedido de ser realizado e, não satisfeitos por não conseguirem impedi-lo, puseram-se a ensaiar peças de teatro próximos a porta, fazendo bastante barulho. Chibatada!A inconsequência dessas criaturas foi tanta que acenderam duas piras alimentadas por querosene ou gasolina para encenar mais uma de suas peças, onde mostram Jesus como libertador de pecados. Resultado: a fumaça negra das piras entrou no teatro causando um intenso mal cheiro e a própria colocação das mesmas ameaçava a segurança das pessoas que lá estavam, pois havia muita gente no local. Chibatada!O mais impressionante foi a ação dos bombeiros que estavam lá de plantão: não fizeram NADA!
Um panfleto com desenhos que lembravam a guerra dos mundos foi distribuído para todos e seu conteúdo mostrava a GUERRA do BEM contra o MAL. Uma menina de cerca de 8 anos de idade aproximou-se de um dos palestrantes entregando-lhe um desses e dizendo que “nós somos do bem e vocês do mal”.Após enorme pressão psicológica e provocações a Iá Sandra Medeiros, uma das palestrantes e representante da tradição de Orixá descontrolou-se após ter sido chamada por vários nomes e ter sido acusada de ter ligações com o demônio. Manifestando-se de forma exaltada contra o ato repugnante, a reação dos seguidores de Jesus foi gritar: “Nós vencemos!”, num ato de extrema covardia e mostrando a intensão dos protestos, que era fazer com que nós perdessemos o controle e reagíssemos agressivamente para que seus protestos tivesse justificativa. Chibatada!
Intolerância, obsessão, fanatismo. Uma vergonha!

50 chibatadas em nome de Jesus! Em nome do amor ao próximo!

50 chibatadas em nome de Deus, que é Bom!

50 chibatadas em nome da fé que eleva!

Afinal de contas, não temos de aprender que Deus é amor e que só Ele é o caminho e a salvação para um mundo de paz? Não tenho dúvidas, mas sim minhas certezas.

Como disse num outro texto: "Como a vontade de Deus é maior do que a do homem..." O evento aconteceu. Foi lindo, maravilhoso, um sucesso. Os esforços de muita gente de luz que não está para fazer guerras entre mundos, mas alegria entre todos, foi recompensado por Deus, Jesus, Universo, Deusa e todos os seus outros nomes com um lindo arco-IRIS (e companhia) a iluminar a alma de todos que lá estiveram de coração aberto para celebrar a alegria de partilhar o mundo em harmonia.
Muita atenção com as suas “verdades”, com seus conceitos de certo e errado, pois esses podem se tornar verdadeiros chicotes, ferindo, afastando e destruir tudo de bom que o mundo tem a lhes oferecer. Que essa situação desagradável não caia no esquecimento!

O chicote é o produto da raiva de quem o impunha. A projeção de seu ódio, frustrações e incapacidades. E quando acerta nas costas de quem está em paz, faz-se nascer dentro desse coração e assim a destruição e a violência se espalham como se fossem uma doenaça... A menos que o amor seja mais forte que a dor e a ira.


A paz do Lírio para todos vocês!



Alex