Wednesday, May 28, 2014


O texto de Luis Du Bois é uma das poucas obras disponíveis sobre Mlle Le Normand que trago para vocês. Como não falo francês, tive a ajuda de uma grande amiga, Teresa Stewart, que, gentilmente, traduziu o texto há alguns anos, numa tarde de domingo, quando eu ainda morava em Portugal. 

Ele é longo e no estilo da época fazendo referência a nomes e situações do seu contexto histórico, o que, por vezes, torna a leitura confusa. Para facilitar a sua compreensão, traduzi algumas partes do capítulo de “A Wicked Pack of Cards” de Roland Decker, Thierry Depaulis e Michael Dummet que fala sobre a vida de Le Normand, no qual os autores comentam sobre a obra e o autor, bem como o contexto em que foi escrito.

Apesar do seu caráter especulativo, sem dar referência aos fatos citados e de atacar, implacavelmente, a cartomante francesa, há informações fidedignas como o uso dos tarôs egípcios de Etteilla e seu baralho de cartas de jogo (petit eteilla) por Mlle Le Nomrand, o que ajuda a desconstruirmos os mitos sobre a criação e utilização do petit lenormad por ela.

“ Embora tenha enchido seus livros com episódios de sua vida e as pessoas com quem encontrou e , embora, muitas obras tenham sido publicadas ao longo de sua carreira – há, pelo menos seis biografias, sem mencionarmos notas em dicionários – não é fácil delinear a vida real de Mlle Le Normand. Muitas de suas afirmações são ilegítimas, muitas de suas biografias são forjadas, reconhecidas ou não. Logo após sua morte em 1843, três livros foram publicados. O primeiro deles, La Sibylle de XIXe siècle, consiste no que pretende ser profecias feitas pela própria Mlle Le Normand, escrito pouco antes de sua morte com um comentário sobre elas e uma pequena biografia da autora; a biografia é anônima.
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Logo após, em 1843, Francis Girauld, um poeta obscuro, publicou Mademoiselle Le Normand: as biographie, ses prédictions extraordinaires, ao qual ele adicionou uma “introdução filosófica nas ciências ocultas”, apresentando a história da adivinhação, leitura de mãos e cartomancia com os Tarôs Egípcios e o Jogo de Picket ‘como explicado pelas profetisas do século XIX’”. A capa alega que que é a única biografia “oficial”. A introdução e explicação da cartomancia com o Tarô são plagiados de Julia Orsini, Le Grand Etteilla, ou l’art de tirer les cartes, publicados publicados em Lille em 1838, enquanto a biografia é amplamente derivada de La Sibylle du XIXe siècle para os primeiros anos e dos escritos de Mlle Le Normand.

Ainda no mesmo ano, uma voz cética vou erguida por Louis Du Bois um folheto de 20 páginas intitulado De Mademoiselle Lenormand et de ses deux biographies, récemment publiées (Sobre Mlle Lenormand e suas duas biografias recentemente publicadas, Paris 1843). Baseado no livro de Girault, o autor ataca, impiedosamente, a veracidade de Mlle Le Normand e suas afirmações de ter feito profecias acertadas, sem oferecer evidências sólidas. Du Bois, que se denominava bibliotecário da École centrale de l’Órne (i.e. o departamento do qual Aleçon é a capital), abre seu panfleto declarando que Marie-Anne Le Normand não nasceu em 1772, como afirmado tanto por Girault como em La sibylle de XIXe siècle, mas a 16 de setembro de 1768, porém, mais uma vez, sem citar qualquer evidência.”

http://www.bmlisieux.com/normandie/sybille.htm

Sobre Mlle Le Normand e suas duas Biografias, recentemente publicadas.

por Louis Du Bois

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Heu! Valum ignarae mentes! VIRG.

Parece que tudo que toca aos profetas participa da ignorância que Virgilio lhe atribuiu.

Com efeito, M. Querard e, segundo ele, todos os escritores que falaram da Sibila parisiense, incluindo M. Francis Gerault, na sua biografia completa de Mlle Le Normand, única biografia autorizada pela família, todos se enganaram unanimemente sobre a data de nascimento desta famosa pitonisa, sibila, adivinha, feiticeira e para reduzir as coisas sua expressão mais simples e verídica, aquela que tira as cartas ou cartomante.

Digamos a verdade, nós que não somos bruxos, como se verá bem. Marie-Ann Le Normand nasceu em Aleçon, não em 1772, mas a 16 de setembro de 1768. Seu pai, um honesto fabricante de tecidos, deixou, quando morreu, um filho que viria a falecer como militar no início das nossas revoluções e duas filhas, uma delas a jovem (Sophie) casou com M. Hugo, cujo flho, um bravo militar como sei tio e hoje tenente no 11º regimento de linha.

Todas as maravilhas do convento de que Mlle Lenormand falou nas “Souvenirs Prophetiques” são tanto fatos conturbados como são as previsões realizadas tão admiravelmente que lhe atribuem.
A começar por si mesma, ela previu em 1815, nas suas Souvenirs... que viveria 84 lustres e, quase uma olimpíada, em estilo vernacular isso quer dizer cerca de 124 anos. Desde 1815 e ainda recentemente, ela repetia a quem quisesse ouvir que não morreria antes dos 101 anos: o que já era uma longevidade considerável.
Infelizmente, a infiabilidade das jovens e velhas bruxas é, como toda gente, sujeita a variações e más contas. É preciso dizer, chorando, que o mundo só teve a felicidade de possuir a sibila 74 anos, 9 meses e 9 dias! De resto, é normal que existam bruxas que se enganam nos oráculos sobre elas mesmas, da mesma maneira que há médicos, advogados e padres que quando se trata das suas profissões e dentro dos seus negócios, têm medo uns de morrer, outros de perder os processos e os últimos de ir para o inferno, tudo gente sábia, mas pouco seguros do que dizem ou fazem.

Uma vez que a caridade começa por si mesmo é lícito acreditar que, se Mlle Le Noramand cometeu esse enorme erro, para seu prejuízo, não foi por falta de não ter feito a paciência, queimado 3 pelos do rabo de um gato preto, de não ter virado a fechadura, e de mesmo não tendo consultado o coração palpitante de uma galinha preta que, como Caquet-Bom-Bec, antes de suas escapadas, nunca tinha posto um ovo.

Pois bem, depois desta descoberta tão patente, fiem-se nas cartomantes e nas sibilias sejam elas de Tibur, de Cumes ou na rua de Tournon.

Voltemos aos primeiros anos da nossa Pitonisa. Foi enviada pela sua madrasta para uma escola de meninas dirigida pelas Beneditinas - que não pertenciam a uma abadia real, como os biógrafos de Mlle Le Normand nos fazem crer). Mais tarde foi para uma costureira para aprender a ler e a cose, tendo feito pouco progresso, tanto numa arte como em outra. Não foi falta de inteligência ou aptidão mas, antes, por ser muito dispersa e se ocupar mais em ler as cartas e de frivolidades do que de tarefas sérias e úteis.

Ora, nesse tempo, em Aleçon, como aliás, em todas pequenas cidades, as burguesinhas tinham o furor de ler as cartas para tentar encontrar, no futuro, uma bela posição social, uma grande fortuna e, sobretudo, um marido. Como ainda não usavam este velho Balantine, que mais tarde chamaram de Ridículo ou um Saco, era no bolso do avental comum que estas jovens escondiam cuidadosamente a pequena caixa de rapé e junto a ela o seu pequeno jogo de cartas fatídicas.

Assim como todas as outras jovens colegas, Mlle Le Normand descobria, custe o que custar, nas cartas de baralho de Etteilla (anagrama de Alliette)as grandes esperanças que alimentavam grandes projetos e um futuro onde as nuvens clareavam aos raios da mais brilhante ambição.

Não sei se em 1872, Mlle Le Normand que tinha 14 anos, já consultava o seu grimório e sabia fazer a Grande Paciência (mesa real?), mas tenho certeza do que ela a perdia. Aliás, não era num bairro de Aleçon que ela poderia esperar ver realizados os mais altos destinos que pretendia. Precisava de um teatro bem maior.
O seu compatriota Herbert, muito conhecido 7 anos depois pelo nome de Père Duschesne, corrido de Aleçon por alguns cartazes caluniosos, escrevia de Paris dizendo que lá tinha feito uma grande fortuna; o que não era verdade, mas suficiente para fazer crer que era somente necessário ir para a capital para lá colher de mãos cheias o ouro de Potose e os louros de Parnasse.

Para satisfazer os desejos prementes de Mlle Le Normand, colocaram-na numa loja e o seu talento de cartomante demorou muito a ser conhecido para além do balcão.

Foi, somente na época da revolução que o seu talento começou a dar frutos. Quis juntar aos pequenos recursos de suas cartas de Etteilla o produto de suas peças dramáticas; ela compunha melodramas. Infelizmente, ela não tinha adivinhado que mal concebidos, mal conduzidos e mal escritos, eles não poderiam ter sucesso. Desiludida em suas esperanças voltou-se de novo para cartomancia. Na verdade nem é presumível que os homens famosos da Revolução a tenham consultado. O que é verdade é que depois das terríveis calamidades de 1794, a imaginação das pessoas ficou deveras exaltada devido aos reinos destronados, aos reis decapitados, às grandes fortunas perdidas, aos grandes torando-se pequenos e os pequenos torando-se grandes. Esses tempos foram, verdadeiramente, favoráveis à especulações de forma que pouco tempo depois apareceram feiticeiros maiores que a Feiticeira de Aleçon, ocupando o cenário mundial fazendo soar as trombetas da Fama. As Duquesas e os porteiros, as costureiras e os coronéis impacientes e cheios de esperar pela contra-revolução; todos descontentes com o presente e confiantes no futuro, contribuíram para fazer a fortuna da jovem Aleçonesa que deveria tornar-se, ao fim de poucos anos, uma velha feiticeira.

Apesar de alguns problemas coma polícia enraivecida do Consulado e do Império que, a adivinha não tinha adivinhado, foi, então que se instalaram confortavelmente, a cartomancia, a quiromancia, a geomancia e tantas outras artes ocultas de parecida desinência que nos fazem horror só de as pronunciar. Foram, então, intimados a partir das profundezas do inferno, Belzebu, Leviatan e entre outros muitos, Behemoth, incluindo a Pitonisa que tinha o poder de os evocar, mas que não tinha o poder de escrever seus nomes corretamente e que, por isso, cita somente um pequeno número de 7 milhões 405 mil e 926 demônios comandados por 72 príncipes das Trevas que, como se sabe, constituem, no relatório de Jean Wie e Jean Bodin, o óleo negro dos reinos infernais.

A estes métodos pouco confiáveis, a Pitonisa não deixa de lhes juntar a clara de um ovo, a borra do café, se não fossem de Moka seria de chicória, os tarôs, chumbo derretido, pedaços e espelhos quebrados conservando o seu bismuto, a leitura das linhas da mão, etc, etc, etc. Desse modo, o seu sucesso, assim como a seus registros precisos, cresceram rapidamente com a conversão da palavra em oráculos e oráculos no precioso ouro.
Nas suas famosas Souvenirs Prophétiques, cujas biografias encontradas hoje são somente um extrato, Mlle Le Normand teve o cuidado de não dizer se ela ía ao sabbat voando no cabo de uma vassoura. Há dois séculos atrás, teria sido de boa ou má vontade, queimada viva em meio a grandes torturas. No entanto, é difícil acreditar que não tenha devolvido a visita aos demônios que costumavam visita-la. Mesmo assim, a profissão de feiticeira é hoje é bem inocente e minimamente perigosa, o que não quer dizer que não seja lucrativa. Na realidade, uma fortuna de 500.000 fr. Que, com alguma organizaao fim seria muito mais, deixada por essa dama ao seu sobrinho, compunha-se de um capital bem superior ao que centenas de feiticeiras queimadas vivas nos séculos XV, XVI e XVII puderam alguma vez usufruir.

Em 1815, o mais espiritual dos colaboradores do Journal de Debats (Hoffmann) se divertiu muito à conta de Mlle Lenormand, na altura das Souvenirs Prophétiques que ela viria a publicar, esperando o pior para fazer conhecer a Europa e para posteridade, as causas e os segredos de uma de suas detenções a 11 de dezembro de 1809.
Sabemos que grande parte das Mémoirs, mesmo aquelas que são autênticas, não são mãos do que desculpas mais ou menos mentirosas para elevar os grandes talentos do herói, os felizes acontecimentos que teriam trazido, se se tivesse acreditado nele ou nos terríveis males que ele teria prevenido se o tivessem deixado. E bem pior nas Souvenirs Prophétiques, cujo título por si só é um erro.

Essas palavras uivam de medo de se verem juntas
A autora só fala de ilustres personagens que nunca viu, das previsões realizadas que nunca fez, prisões imprevistas que ela devia ter adivinhado e os agentes de polícia triunfantes que ela deveria ter sabido dispensar com todos os demônios que tinha às suas ordens: o que teria furiosamente rebatido os argumentos de Fouchet e de sua polícia.

Há uma justiça que deve ser feita à Mlle Le Nomrand: Não é dado a saber que ela, alguma vez, tivesse abusado do poder que tinha sobre as legiões infernais, pois uma vez que isso lhe teria sido fácil, nunca fixou previamente a data da mais ínfima previsão.
Se a sua faculdade de poder de ler o futuro é posta em causa, a de ler o passado não valia mais em nossa Sibila. O que buscaria ela sobre o que disse do erro de La Harpe e, sobretudo, de Petitot (o editor das suas obras póstumas) sobre uma possível previsão de Cazzote? Ela não ousou, talvez, representa-la como autêntica, ainda mais quando La Harpe escreveu formalmente em baixo desta brincadeira: “Este conjunto de fatos inesquecíveis e monstruosos, eis o prodígio, pois a profecia é, somente, provável”. Por que ela pede ao Mirabilis Liber esta previsão: “O galo cantará e os novos lírios florescerão em Gales”? Nos Souvenirs , ela alega ter feito essa profecia antes de 1814, mas o livro não foi impresso até 1815, tendo sido, evidentemente, feita depois. O autor de Mirabilis Liber que foi impresso por volta de 1500, foi menos prudente que a Sibila Aleçonense. Ele a fez por volta de, no máximo, 1525. Ora, ela nunca se concretizou. O que são esses feiticeiros que fixam uma data certa às suas previsões! Mlle Le Normand nunca fez isso. As suas só foram impressas anos depois de sua realização. É mais seguro.
Digo-o para o consolo daqueles que não têm o grau elevado do talento e do estilo: não é certo que se possa escrever num francês correto e elegante, mesmo dando-se ao diabo, mesmo submeter-se a um tintureiro inspirou as fantasias mais elaboradas: vejam antes Mlle Le Normand e os seus Souvenirs e muitos outros em – 8º nos quais ela justifica o que dela e da sua obra disse o engenhoso literário supracitado: “Uma sibila é superior à razão e ao bom senso.”

E já que estamos especulando sobre a fama da Sibila de Aleçon, recomendamos àqueles elaborarão o Normandana essas frases de Hoffmann: “Semelhante ao barqueiro do Estige, Mlle Le Normand recebia em seu barco o monarca e o gigolô desde que lhe dessem uma moeda. Como a tripla Hécate reina alternativamente no céu, na terra e no inferno, reconhecer-se-á que Mlle Le Normand brilhava no Parnasse, na rua de Tournon e nas Prisões da Polícia da Prefeitura.

Quanto às prisões, ela deveria saber em que dia iria sair: ela diz-nos que (reconsultou suas cartas egípcias divididas em três quadrados em forma triangular; e que ela tinha certeza que seria libertada quando o rei de copas se encontrasse com seu ás e seu 10, acompanhado do ás de espadas e do nove de paus).
Numa das suas detenções que durou apenas 12 dias, sem dúvida, graças ao “gênio Ariel, espírito super celestial muito poderoso”, que às vezes conseguia impor-lhe o silêncio, apesar da sua grande vulnerabilidade que o biógrafo destaca em nossa Sibila. Graças, ainda, ao super celestial Ariel “um desafio incrível lhe foi apresentado em cada dia da sua detenção; 719 selos foram apanhados. Aqueles que os tinham deixado ignoravam que durante algum tempo, o tripé da Pitonisa se encontrava sob a influência do pequeno Leviatan.” Reconheço, com vergonha, que partilhei com tantos outros a ignorância destes 719 espectadores; é verdade que nessa altura não me encontrava em Paris sob o charme do nº5 da rua de Tournon; era uma simples mortal em Aleçon, como era, por vezes, Mlle Le Normand, quando se dignou do seu Olimpo Parisiense a descer aqui e aparecer.

Esperando o “Normandana e mais uma centena de volumes inéditos que deixou, aparecerem duas pequenas brochuras, a primeira tendo como título: A Sibila do Século XIX: Últimas profecias de Mlle Le Normand, e a segunda, sua biografia completa, a única autorizada pela família, etc.

No primeiro desse livretos são lhes atribuídas 43 profecias inéditas, mas que não são, de certeza, da Sibila do Século XIX que, diga-se de passagem, não são melhores nem piores que outras. Desde o Mirabilis Liber, as Centúrias de Nostradamus, as Profecias Perpétuas de Thomas Moult e as outras qye se lêem todos os anos em almanaques, todos esses oráculos se parecem uns com os outros na forma e nenhum deles tem mais valor que o outro.
A segunda obra, única autorizada pela família, não parece mais longa, simplesmente vem dar lugar a mais erros e absurdos. A palavra é dura. Vamos tentar justificar-nos o mais seriamente possível.

Os 1200 francos ganhos na loteria e na viagem à Londres para consultar Gall, que ainda não era conhecido e que não se encontrava na Inglaterra, são fraudes óbvias. Assim, também não é verdade que “Gall tenha cientificamente engendrado Mlle Le Normand”; paternidade bem inocente, mas que não impediu o médico, se tivesse tido a possibilidade e o bom gosto de ficar o que era, no momento da sua morte, o astrônomo Newton e a Feiticeira de Aleçon.

Estão entre os fatos, claramente, falsos:
1º As consultas na masmorra de Vincennes, em 1781, mais tarde, enviaram a Mirabeau, época na qual ela completava apensas 13 anos;
2º Seus inúteis apelos para salvar Mlle de Lamballe, pois de acordo com a sua arte, ela sabia que o assassinato dessa infeliz princesa, seria inevitável;
3º Seus esforços para libertar a Rainha a rainha, sobre o terrível destino do qual ela não poderia ter a menor dúvida;
4º A previsão do envenenamento de Hoche, que nunca foi envenenado;
5º A do Assassinato do Duque de Berri, do qual ela teve tempo de prevenir o governo, uma vez que ela era bourboniense em excesso, e mesmo que não tivesse sido.
6º As uniões com a duquesa de Angoulène que nunca a tinha visto, com Teeylleyrand, que era mais bruxo que ela, com Talma e Mlle Raucourt, que eram mais do ela, grandes atores, com Hoffmann, que a enganou tão habilmente com mais que fazer do que posar para cartomantes e, finalmente, as predições do seu compatriota, o Padre Duschesne, da Imperatriz Josephine, de Luis XVIII, do Imperador Napoleão, do Czar Alexandre, ao generoso Wellington que não o foi em relação à França. A todas estas alegações sem provas nem veracidade, é preciso juntar as doações de Josephine, que qualquer um podia fazer o retrato e falsificar a assinatura: O que de bruxa, nada tem.

Entre os conselhos que Le Normand dava, é de notar o seguinte, que é muito sábio: “Não se deve acreditar no oráculo da Alectromancia e não ser com extrema prudência.” Tenho a certeza que é bem mais prudente não acreditar e ponto final.
“Este oráculo é mais seguro que o de Clachas.”
E, mesmo os da rua de Tournon, mesmo no tempo em que a Pitonisa usou o grande jogo dos setenta e oito tarôs e considerando o Monte de Vênus, que, para que não haja confusão, não é, segundo ela, outra coisa que “a raiz do polegar estendendo-se por baixo até ao pulso.”

Apesar da ciência de que Mlle Lenormand usava, ela cometeu, como vimos, graves erros sobre os fatos que os mais profanos conhecem e que são fáceis de verificar.

Continuemos. No floreal ano II ou maio de 1794 (pois ela marca francamente estas datas), Marat, Robespierr e Saint-Just vieram consulta-la... Ela invocou Marat do fundo dos infernos, pois Mlle de Cordai aí o tinha despachado havia 10 meses a 13 de julho de 1793?

A gravura anunciada como representação da mão esquerda da Imperatriz Josephin era da direita: o que é muito diferente e pode, no caso da quiromancia, expor aos maiores desprezos: assim não queremos perder um instante que seja para prevenir o mundo: o objeto vale a pena. Deixemos o Monde de Vênus de Josephine; falemos do guerreiro que a fez a Imperatriz.

Mlle Le Normand faz crer que o Imperador a consultou em 1807: ela deferia tê-lo impedido de da fazer as suas Folias de Espanha; que naquilo que chamava de suas paradas, ela fazia suas cartas: revelação bem própria a instruir a posteridade que o tinha acreditado estar –se ocupando de coisas completamente diferentes. Logo, assim se vê que ela era Bourboniense demais, pois a ela cabia ter prevenido todas os erros como Aquilon, mais poderosa que a Europa em armas (como diziam em abril de 1814 os nosso amigos inimigos) o conduziram tão rapidamente à sua perda.
Íamos esquecer dizer que Mlle Le Normand tinha a certeza da existência atual desse Duque da Normandia que, entretanto, morreu em 1795 e que, “ela professava muita estima por M. Emile de Girardin”, que para poupar o pudor de sua modéstia, ela somente designa pelas iniciais. Eis o sucesso o menos contestado do redator dA Imprensa.

A sexta-feira era, para nossa Sibila, “o melhor dia para ler as cartas”. Ela tinha uma forte relação que tinha neste dia predileto, com Sixte-Quint, tão infalível como era para o mais ou para o menos. A sexta-feira, dia de Vênus, deveria, aliás, guardar aquela que tanto se ocupou do Monte de Vênus, e aquele que dizia, em termos bem menos enérgicos do que aqueles que aqui usamos, que não havia religiões duradouras a não ser aquelas onde se fazia amor.

“Tal foi (diz M. Francis Girault, o seu biógrafo, único autorizado pela família, mesmo a cometer barbaridades) a vida maravilhosa desta mulher pomposa, chamada Marie-Anne Le Normand”, a qual ele nos disse que gostava, nos últimos anos de fazer viagens à Aleçon onde mal chegava perante o Coq-Hardi do subúrbio Saint Blaise, ela “voltava a ser uma simples mortal”. Vejam a influência do ar natal sobre as feiticeiras de 65 anos; Pitonisa em Paris, mera mortal em Aleçon! Sim, em Aleçon, apesar do grande renome desta pequena cidade, como diz provérbio que não ousamos terminar. Era, portanto, o caso de se debruçar sobre a Alectromancia numa cidade que poder citar, antes dos seus mais honestos cabarés e, sem contar, o respeitável Pot-d’Etain, o hotel confortável do Coq-Hardi.
Mlle Le Normand não deveria ser, portanto, tão feliz em Aleçon como no nº5 da rua de Tournon. Na realidade, eus que seis livros, que os parisienses tiveram a ingratidão de deixar apodrecer os exemplares em seus armários, ela escrevia, talvez, sem rir: “como Minerva, trago sempre o ramo de oliveira e a sabedoria dos meus conselhos fez, frequentemente, inclinar a balança de Themis em favor dos oprimidos.” – “Na América –cupam-se de mim” mesmo em casa dos Hurons, dos Topinambus e os Peles Vermelhas; na África, tenho milhares de afiliados, até, sem dúvida no Congo e Monomotapa”; “na Ásia, a minha maravilhosa cabala serve de bússola nos escritórios”: o que bem provavelmente se tornou tão eficaz na defesa da China e na resistência da Índia; “na Europa pude contar, entre os meus consulentes, tudo o que há de gente de espírito e mérito, corajosos oficiais, personagens recomendáveis por toda Europa?

Terminemos, pois é bem necessário terminar, mesmo com as velhas bruxas, que seja dito, sem desobrigar aquela que só deixou o tripé sagrado aos 74 anos e mais.

Mesmo que o autor Deuteromônio diga nos seus próprios termos: “Ponham à morte o profeta que, depravado pela sua ignorância, quererá elevar a voz”, não puxo o zelo bíblico que em mim é bem moderado, atpe me fazer valer desta paragem cruel: Limito-me a terminar por estas palavras do evangelista Mateus: “Desconfiai dos falsos profetas; com um exterior que seduz, eles são, bem lá no fundo, lobos dispostos a devorá-los”.

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