Orientação sexual foi um tema que gerou uma extensa discussão no extinto grupo “Tarologistas”. Vários participantes expuseram suas opiniões tentando descrever cartas e combinações que indicassem homossexualidade no jogo. Posso dizer que pouco ou nada se aproveitou do tanto que se escreveu.
O tema é polêmico, pois ainda é tabu, apesar de ter muito mais visibilidade hoje do que antes. Porém, há uma distância enorme entre ver , compreender e respeitar.
Acho que o profissional que atende o público deve, no mínimo, se informar sobre os temas mais recorrentes em consultas, e sexualidade é um deles. E aí é que está o problema! Muitos falam e falam e até escrevem textos, pois pensam que conhecem o assunto, porém tem um entendimento deficiente e contaminado sobre a questão, gerando mais desinformação e problemas do que se pode imaginar.
Afirmar que uma pessoa é homossexual por ver nas cartas que ela manteve uma relação sexual ou algum outro tipo de envolvimento com outra do mesmo sexo é algo, no mínimo, irresponsável. A palavra e suas variantes são estigmatizadas e trazem consigo um peso que pode afetar profundamente o consulente de forma negativa.
Uma pessoa pode manter uma relação com outro por vários motivos e de várias formas. Desde necessidades econômicas até de manipulação e isso não compromete a sua orientação sexual.
Um homem heterossexual que faz sexo com outro somente pela necessidade de um orgasmo ou para obter algum favor não deixa de ser hetero, pois ele não está vinculado afetivamente no parceiro, não tem prazer em outro homem, mas age dessa forma por um interesse que não o afetivo. Somente quando há ligação afetiva é que podemos dizer que ele não é heterossexual.
Relações como essa do exemplo são muito comuns na nossa sociedade que sexualiza precocemente os rapazes incentivando-os a realizar o seu desejo a qualquer custo e tendo sempre em mente que assim ele se fortalece através do domínio do outro, não desperdiçando, as oportunidades que aparecem. Praticamente um fetiche. Enquanto isso as meninas são reguladas por rígidos mecanismos sociais repressores que podem comprometer a vivência plena da sexualidade e a obtenção do prazer, em alguns casos.
Outro erro comum é confundir afeminação e masculinização como indicadores de homossexualidade. Ledo engano. Isso é papel sexual, ou seja, a forma como EXPRESSAMOS a nossa sexualidade e não está diretamente ligada à orientação sexual do desejo que define por quem nos sentimos atraímos.
Nos dias de hoje vemos poucos homens hetero afeminados, muitos delicados e, por incrível que pareça, um número maior de mulheres hetero masculinizadas. Com relação ao tarô, vi muitos descrevendo o pajem de copas que no livro do mago e tarólogo inglês Edward Waite, que é apresentado como um jovem afeminado, como indicativo de homossexualidade masculina. Mesmo? É isso, produção? Enfim...
Encontrei outro exemplo grotesco, mas antropologicamente rico, num tópico que discutia combinações em minha comunidade do Orkut. Diziam que o Homem, carta 28 mais o cão, carta 18 seriam homossexualidade masculina.
Mas, onde foram buscar isso? Não basta associarem gays a pedófilos, agora serão zoófilos, também? Rs
Pois é, mas há lógica aí, mesmo ela se fundamente em conceitos errados pelo senso comum. Quando se fala de um casal de gays, dificilmente, referem-se a eles como namorados e sim como “amigos”. A entonação da palavra chega a mudar: Esse é o Zé, amigo do Mário. Ora, que eu saiba amigo é amigo, namorado é namorado. Eu não faço sexo com meus amigos.
E com isso vai-se desinformando cada vez mais.
Temos de compreender que as variantes não heterossexuais vão além de gay e bi. Se pensarmos somente nesse trio, estaremos sendo incompetentes na análise do assunto.
Gênero e sexo são constantemente mal entendidos. Ter pênis te faz macho, mas não homem. Ter vagina te faz fêmea e não mulher. Parafraseando Simone de Beuvoir: “Uma mulher não nasce mulher, torna-se uma.” Sexo só há dois, gêneros vários! Gêneros são as formas diversas de se viver as masculinidades e feminidades, não estando diretamente ligados ao sexo biológico, o que por vezes, gera uma inadequação que deve ser corrigida para que haja saúde e equilíbrio. Não é alma que se molda ao corpo, mas ele que deve se adequar a ela.
Algumas vezes nos deparamos com algumas mães e pais que vêm querer saber sobre a sexualidade dos filhos. Quanto a isso não facilito. Isso é uma invasão de privacidade e um assunto que deve ser conversado e esclarecido e não investigado dessa forma. Os pais nessa situação devem respeitar os filhos e procurarem orientação de como lidar com a situação caso ela aconteça e um psicólogo é o mais indicado para isso, não o cartomante.
Como o objetivo desse post não é falar sobre sexualidade, mas de como é vista e trabalhada nas consultas, não me estenderei mais. O meu objetivo é sinalizar alguns pontos para que vocês reflitam e tenham cuidado ao abordar um tema tão delicado.
Então, quais as combinações cartas que falam sobre a diversidade sexual?
Sinceramente, não estou preocupado com isso. O que me interessa é conseguir analisar a forma como as pessoas se unem ou não se unem e orienta-las bem sem fazerem com que se percam em classificações que só segregam, separam e são relevantes ,mesmo, para estudos, pois na vida prática o que vale mesmo é ser feliz.
Mais do que gays, lésbicas, travestis, intersexuais, assexuados, entre outros, existem PESSOAS. E isso é o que importa.